sábado, 26 de dezembro de 2009

A nova corrente científica

Cairbar Schutel

Publicado na RIE em outubro de 1934

A nossa época, precedida de avisos e augúrios, se assinala por fatos de ordem espiritual que vêm despertar a humanidade de um marasmo que a reconduziria, sem dúvida, à animalidade.
Graças a esses fatos, os sábios adstritos à ciência positiva têm se empenhado para a conquista da Verdade, e os filósofos, certos de que todas as grandes aquisições em todos os ramos dos conhecimentos são oriundos de fenômenos que vêm comprovar a sua veracidade, começam a examinar sob um novo aspecto os princípios filosóficos que até há pouco lhes haviam embalado, nesta fase da vida que atravessamos.
Não há dúvida que o mundo atual não é mais aquele mundo de antanho preso ao convencionalismo do artigo de fé que escravizava a razão e cerceava o sentimento.
A aurora da Liberdade, surgindo aqui e ali, deu uma nova modalidade à vida, orientando os espíritos para horizontes mais amplos e lhes desvendando, pouco a pouco, as magnificências que nos cercam.
Para esse fim, sem dúvida, muito tem concorrido o Espiritismo, cuja vasta contribuição nos campos da ciência, da filosofia e da religião ninguém pode negar.
Fazendo um apelo à razão e mandando o homem pensar, o Espiritismo se constituiu um dos maiores elementos do progresso moral e espiritual das almas.
Verberando contra o exclusivismo religioso e científico, o Espiritismo apresentou-se a todos com um vasto programa pelas reivindicações da coletividade, seriamente prejudicada pelas religiões que dividem a humanidade e pelas ciências que têm constituído privilégio dos abastados com prejuízo da inteligência que só tem tido valor quando cercada do numerário que distingue os indivíduos.
Educador popular, o Espiritismo tem batido em todas as portas, levando a todos o influxo da sua luz, sem distinguir o nobre do plebeu, o rico do pobre, o potentado do infeliz vergado ao peso da dor. Consolador sem igual das almas, as suas palavras são verdades que aclaram, desalteram e orientam os pobres viajores no novo rumo que veio traçar para que se alcance a Vida na sua pujante manifestação sem as aparências ludibriantes de uma fé arcaica, sem as falsas concepções de uma ciência niilista ou de uma religião bastarda que nega o progresso e só vê neste mundo o círculo dos seus conhecimentos sobre o Universo.
Os fatos espíritas e anímicos vivificados na sua ação periódica e que se repetem hoje com menor intermitência, criaram a Nova Psicologia, que não se limita como a antiga ao senso íntimo, mas se estende em várias modalidades submissas ao livre-exame, à experimentação, à pesquisa, sem a escravidão da razão e as injunções das ideias preconcebidas que inutilizam os espíritos.
No laboratório da Nova Psicologia há lugar para todos os investigadores e são permitidos todos os aparelhos que solucionem, para cada um dos pesquisadores, o problema da Vida.
A matéria lhe é também objeto das mais exigentes pesquisas — suas divisões e subdivisões — seus átomos — seus ions e elétrons — suas forças, magnética e elétrica, sua rarefação, seus fluidos, podendo o estudante agir de modo mais escrupuloso que lhe parecer para chegar à realização do seu desideratum.
Haja vista as substanciosas experiências de Crookes, de Wallace, de Lombroso, e ultimamente do ilustre príncipe da ciência, Dr. Gustavo Geley, como as de Charles Harry, Diretor do Laboratório de Fisiologia das Sensações da Sorbonne.
Em face dos trabalhos do grande fisiologista francês ninguém será capaz de se colocar sob as injunções falsas e obsidiantes da ciência oficial que bate palmas ao Materialismo retrógrado e negativista, que muitos males tem causado à humanidade.
De fato, desde que foram ouvidos os primeiros batidos na aldeia de Hydesville, cujas manifestações se estenderam por toda a América e Europa, a “deusa matéria” viu os seus alicerces abalados.
Pondo à margem o testemunho dos fenômenos ocorridos através dos séculos e das gerações, basta que se examine os fatos destes últimos tempos para chegar-se à conclusão da verdade positiva e irretorquível sustentada pela teoria espírita, de que a inteligência e a memória são absolutamente independentes da matéria e podem viver separadas dela.
O alvorecer da Psicologia Experimental, sem falar no trabalho do incomparável Missionário Allan Kardec, foi assinalado com as experiências de William Crookes, uma das mais pujantes individualidades da ciência contemporânea.
As descobertas desse sábio, da matéria radiante, do radiômetro, os seus estudos sobre o protilo, a espectroscopia etc., lhe dão incontestável autoridade. No final de suas experiências espíritas, ele disse e deixou escrito no seu testamento científico: “De todas as minhas experiências deduzi com uma evidência categórica a existência de um princípio inteligente e livre.”
À mesma conclusão têm chegado todos os investigadores inteligentes, todos os sábios de renome: “O homem não é o resultado material de uma evolução e nem a síntese de condições neurônicas, mas sim um ser autônomo e consciente livre das injunções da matéria.”
A nova corrente científica julga, pois, resolvido o grande problema da constituição íntima do homem. A aglomeração de fatos, que se repetem todos os dias, não deixa lugar a dúvidas, mas constitui assunto de sérios estudos no terreno da fisiologia, da química, da física e até da medicina.
Para salientar melhor a necessidade de estudo, conforme temos insistido sempre, basta lembrar que um simples fenômeno de levitação destrói o postulado newtoniano da gravidade.
Mas é tempo de concluir este e o fazemos, reiterando as nossas solicitações aos médicos, e a todos aqueles que se julgam de posse da ciência, para que investiguem, examinem e estudem a nova corrente científica alicerçada poderosamente pelos fatos anímicos e espíritas, que já não podem ser negados por quem quer que seja.
É preciso que todos os homens, letrados ou não, despertem do marasmo em que se acham e se preparem para receber a Verdade tal como ela se apresenta. Já não dizemos mais que a Verdade virá para confundi-los em sua vã sabedoria, mas ela aí está convidando todos os homens de boa-vontade a seguir-lhe os passos, e aos sábios e entendidos a fazerem um estudo desapaixonado, um exame nítido e meticuloso de suas portentosas manifestações.
A nova aurora surgiu esplendorosa descortinando horizontes novos de vida e de movimento que se achavam cerceados pelo oficialismo científico e religioso, causa dos grandes insucessos sociais e da paralisação espiritual dos povos.
Mas os acontecimentos se precipitam de um modo frisante e dentro em breve à nova corrente reunir-se-ão homens de valor que arrebatarão as massas com a sua lógica invencível e suas manifestações positivas.

Um comentário:

Guilherme Fraenkel disse...

A doutrina espírita é para a cultura ocidental um grande divisor de águas. Seu novo pensamento, unificador por natureza, reúne os pensamentos filosófico, científico e religioso e abre a possibilidade de síntese.

Caminhamos durante muitas décadas por um cenário de divisões e especializações contínuo que abriram a mente de nossa sociedade para o entendimento das questões sob diversos pontos de vista, mas nos fechamos para a interligação destes pontos de vista e, consequentemente, perdemos a possibilidade de chegar a Deus.

A doutrina espírita vem cumprir um importante papel; o de contribuir para a reunificação dos pensamentos e redescoberta do criador. Propõe que vejamos o mundo despidos de preconceitos e procuremos assimilar o que há de melhor em cada estrutura de pensamento possibilitando, desta forma, a produção de um pensamento interligado e que nos possibilite entrever as belezas do universo como um todo.

Acho que esta é a maior beleza da doutrina.