quinta-feira, 3 de junho de 2010

FENÔMENOS MEDIÚNICOS NA VIDA DOS SANTOS

Sylvio Ourique Fragoso



Parte II



Santa Rita de Cássia

(Obra consultada: Na Luz Perpétua, do Pe. J.B. Lehmann

Nihil Obstat - Pe. Guilherme Porten, Reimprimatur - Justino, Bispo Diocesano)

Nascida em 1381, na Umbria, filha de Antônio e Amata Mancini, Rita desde criança produziu fenômenos que hoje a classificariam como médium de efeitos físicos. Muitas vezes seus pais viram sua cabeça nimbada por um halo de luz.

Piedosamente, Rita de Cássia dedicava-se às orações e, quando mocinha, pretendeu entrar para a Ordem das Agostinianas. Forçada pelo pai, porém, veio a contrair matrimônio e teve dois filhos.

Quando seu marido foi morto por antigos companheiros, Rita acolheu os assassinos em sua casa, para que não fossem presos.

Se muito Rita havia sofrido nas mãos de seu marido, que a maltratava, muito também sofreu com os filhos, de gênio rebelde e irascível. Quando souberam, aos quatorze anos, que seu pai fora assassinado, juraram vingança, e de nada valiam os rogos de sua mãe, que os instava a perdoarem os assassinos. Antes que a vingança se consumasse, porém, os gêmeos vieram a falecer. Rita estava só, e novamente acalentou seu sonho de entrar para a Ordem das Agostinianas. Mas a superiora a rejeitou, pelo fato de ser viúva.

Voltando para casa, Rita de Cássia ficou a rezar. Eis que, em dado momento, um ponto luminoso apareceu e foi aos poucos tomando forma. Espantada, Rita vê que a luz ia assumindo a aparência de uma mão luminosa, enquanto uma voz a chamava pelo nome.

Cheia de susto, Rita nota que a luminescência vai crescendo, e três figuras masculinas se formam diante de seus olhos, e ela crê estar diante de João Batista, Santo Agostinho e de São Nicolau de Tolentino.

Não cessam aí as manifestações mediúnicas de Rita. As monjas Agostinianas, ao entrarem no claustro, ali encontram em oração aquela que não haviam aceito por ser viúva. Cheias de espanto, perguntam como pudera Rita ter lá penetrado, e ela respondeu que seus três santos protetores a haviam chamado e que, quando dera por si, já ali se achava. Diante do estranho fato, consente a superiora em recebê-la.

Rita tornou-se um exemplo de humildade e dedicação. Um dia, estando a rezar defronte à imagem do Cristo crucificado, sente uma dor aguda em sua fronte: da coroa de espinhos da imagem saltara um acúleo que lhe foi atingir a testa, produzindo uma ferida que jamais haveria de cicatrizar.

Já nos últimos anos de vida, mal podendo se alimentar, Rita ainda era um modelo de resignação. E no momento em que morria, todas as religiosas presentes puderam ver sua cela iluminada por estranha luz, enquanto que agradável perfume balsamizava o ambiente.

Sem dúvida alguma, temos de nos curvar ante tantas demonstrações de fortaleza e confiança diante dos sofrimentos. Mas como o que estamos estudando são as manifestações mediúnicas, façamos um resumo dos maravilhosos fenômenos de efeitos físicos que Rita de Cássia produzia:

- Aparecimento de luzes em torno de seu próprio corpo.

- Aparecimento de luzes longe de seu corpo.

- Materialização de mãos.

- Materializações completas, de pessoas já falecidas.

- Transporte de seu corpo, que aparece no claustro estando as portas trancadas.

- Deslocação de um espinho da imagem, que vai se cravar em sua fronte.

- Produção de fenômenos de voz direta.

- Produção de perfume, aparentemente oriundo da chaga na testa.

Estudemos separadamente cada caso e vejamos se podem ser tidos na conta de milagres.

O aparecimento de luzes próximas ao corpo do médium ou longe dele, é praticamente a tônica dos fenômenos de materialização, e o atestam todos os pesquisadores. Léon Denis assim se exprime (No Invisível):

"Os elementos das materializações são temporariamente hauridos nos médiuns e nas outras pessoas presentes. Suas radiações, seus eflúvios, são condensados pela vontade dos Espíritos, ao começo em cúmulos luminosos; depois, à medida que aumenta a condensação, a forma se desenha, torna-se cada vez mais visível".

René Sudre (Tratado de Parapsicologia) diz:

"A mão de Home, o alto de sua cabeça, tornavam-se por vezes fosforescentes como se um vapor saísse deles".

Mais adiante, falando sobre o ectoplasma, esclarece este autor:

"A substância se manifesta sob a forma de névoa luminosa ou não, e sem transição passa ao estado organizado".

William Crookes (Fatos Espíritas) assim descreve a formação ectoplasmática de mãos:

"Vi, mais de uma vez, primeiro um objeto mover-se, depois uma nuvem luminosa que parecia formar-se ao redor dele e, enfim, a nuvem condensar-se, tomar forma e transformar-se em mão, perfeitamente acabada. Nesse momento, todas as pessoas presentes podiam ver essa mão. Nem sempre ela é uma simples forma, pois algumas vezes parece perfeitamente animada e graciosa: os dedos movem-se e a carne parece ser tão humana quanto a de qualquer das pessoas presentes".

Ainda sobre o assunto, René Sudre acrescenta:

"Ao descrever o ectoplasma tivemos ocasião de dizer que ele aparecia geralmente em estado luminoso. Adquire, então, diversas formas: nuvem, bola, pontos, clarões".

Crookes, com sua autoridade de físico-químico, declara:

"Demais, muitas dessas luzes eram de natureza tal que não pude chegar a imitá-las por meios artificiais".

E mais adiante:

"Sob as mais rigorosas condições de exame, vi um corpo sólido, luminoso por si mesmo, pouco mais ou menos do volume e da forma de um ovo de perua, flutuar, sem ruído, pelo aposento, elevar-se por momentos, mais alto do que poderia fazer qualquer dos assistentes (...)".

Sudre fala também:

"Assinalamos ainda os clarões difusos que cercam por vezes o corpo dos pacientes".

D’Arsonval e Curie viram ao redor da cabeça de Eusápia Paladino "uma espécie de zona obscura seguida de uma luminosa, semelhante ao espaço negro catódico na descarga de um tubo de Crookes".

Léon Denis narra uma materialização perfeitamente formada à vista dos experimentadores que tinham também, diante de si, o médium em transe.

Muito lamentável que certos "parapsicólogos" de colarinho eclesiástico que andam por aí a dar conferências e cursos, e a editar livros, "esqueçam-se" de narrar fatos dessa natureza, negando o fenômeno das materializações completas. Ouçamos, de novo, Léon Denis:

"A Sra. Florence Marryat descreve uma sessão que se efetuou no dia 05 de setembro de 1844 em presença dos coronéis Stewart e Len, do Sr. e da Sra. Russel Davies, do Sr. Morgan e dela própria, na qual os Espíritos mostraram aos experimentadores de que modo procediam a fim de organizar para si mesmo um corpo a expensas do médium".

"Eglinton se apresentou primeiramente entre nós em transe completo. Entrou de costas, com os olhos fechados, a respiração ofegante, parecendo debater-se contra a força que o impeliu para o nosso lado. Uma vez aí, apoiou-se a uma cadeira e vimos sair-lhe da ilharga esquerda uma espécie de vapor, massa nevoante como fumo. Suas pernas estavam iluminadas por clarões que as percorriam em todos os sentidos. Um véu branco se-lhe estendeu pela cabeça e pelos ombros. A massa vaporosa ia aumentando sempre e a opressão do médium tornava-se mais intensa, enquanto mãos invisíveis, retirando-lhe da ilharga flocos de uma espécie de gaze muito leve, os acumulavam no solo, em camadas superpostas. Acompanhávamos com alvoroçada atenção os progressos desse trabalho. De repente se evaporou a massa e num abrir e fechar de olhos, um Espírito perfeitamente formado apareceu ao lado de Eglinton. Ninguém poderia dizer donde nem como se achava entre nós; mas aí estava".

Eis aí alguns fatos sobre materializações, que corroboram com o acontecido com Rita de Cássia. Os exemplos, podê-lo-íamos multiplicar muitas vezes, mas cremos que o que foi dito basta. Não se alegue, também, que os médiuns espíritas produzem suas materializações em transe, enquanto que Rita, pelo que se sabe, estava lúcida. Há vários graus de transe mediúnico. Além disso, lembremo-nos de D’Espérance, que permanecia consciente durante todo o tempo, assistindo às próprias materializações que produzia. O fenômeno, pois, não é novo para os estudiosos do Espiritismo.

agosto/1979

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