quinta-feira, 3 de junho de 2010

Ler Matéria - Revista RIE

Os verdadeiros milagres
Octávio Caumo Serrano

Aos domingos, onze horas da noite, costumamos assistir a um programa de entrevistas numa rede católica de TV, quando são convidadas pessoas de diferentes áreas, não para falar especificamente de seu trabalho, mas expor-se como seres humanos.
As perguntas são simples e falam do dia a dia, para dar a conhecer a personalidade do entrevistado. “Como você é quando fica doente?”, “Você perdoaria uma traição?”, “Em que você gasta dinheiro e não se sente culpado?”, “Como você reage diante da ingratidão?”, “O que você pensa do casamento”, etc.
Uma das perguntas que normalmente não falta, feita por qualquer um dos cinco entrevistadores, é: “Você já recebeu algum milagre?” As respostas são as mais diversas, mas geralmente envolvem situações como as catalogadas no Evangelho de Jesus: o cego que viu, o paralítico que andou, a hemorroíssa que se curou... Esporadicamente há respostas filosóficas; mas é raro.
De nossa parte, consideramos milagre algo superior a tais acontecimentos porque cada um de nós já é um milagre da criação. Como explicar a união de uma alma a um corpo durante a gestação no ventre materno para que cresça e se complete para viver por conta própria?
Como deixar de considerar milagre o trabalho do organismo quando cada parte executa sua função em estreita colaboração umas com as outras? A vida pulsa à nossa revelia. A digestão se faz e o sangue nos nutre, estejamos amando ou odiando, trabalhando ou repousando, sorrindo ou chorando... Os alimentos são separados para aproveitamento do que é útil e excreção dos resíduos desnecessários.
Não será um milagre que de um espermatozóide e um óvulo nasça uma pessoa, completa, com inteligência, força, movimentos? Não será um milagre podermos andar, falar, olhar, cheirar, pegar, pensar?
Os ciclos da natureza, com produtores e predadores absolutamente balanceados, não será também um milagre? E os três reinos entrelaçados em ajuda comum?...
Enquanto o homem procura o motocontínuo, o coração humano já executa esse trabalho desde a eternidade dos tempos. Sem motor, sem combustível. Os computadores têm memória para armazenar dados. Mas o homem já tem memória desde que foi criado e guarda recordações de toda sua vida, com detalhes surpreendentes. Não é um milagre?
Há outros milagres que, para quem não têm olhos de ver, parecem banais. A igualdade na morte, independente das desigualdades na vida, é um deles. Também a justiça divina que dá a todos os mesmos direitos ao livre-arbítrio, porque todos dispõem de vinte e quatro horas a cada dia para fazer o que desejarem.
Nasce um homem e uma mulher, em proporções iguais. Isso só se altera porque os homens morrem mais devido às guerras, aos vícios e às delinquências onde são maioria. Não fora isso e teríamos cinquenta por cento para cada sexo, em todos os países da Terra. É um acaso? Não. É a organização divina que controla com precisão todos os atos da criação que para nós parecem naturais, mas que são os milagres de leis precisas em favor da humanidade.
Ter o ar para respirar, o sol para fixar o cálcio e a noite para o repouso, igual para todos, são gestos de bondade de Deus. Verdadeiros milagres que o homem não pediu, mas que lhe foram concedidos por misericórdia. Ele só percebe o valor da saúde quando tem insônia, indigestão, asma, bronquite, alergia, desconfortos que alteram o funcionamento do organismo...
Independente desses milagres, muitos outros se operam em nós sem que os percebamos. Doenças curadas que nem sabíamos que existiam. Percursos que não fizemos para ser poupados de acidentes. Casamentos não realizados para evitar-nos sofrimento por toda a vida; e na hora ficamos irritados. Quantas outras coisas nos aborreceram por não dar certo e nem sabíamos que Deus estava nos poupando! Alguém que deixa de embarcar num avião que se acidenta, sabe bem do que estamos falando!
Não é necessário perguntar a ninguém se já recebeu algum milagre. Gerar filhos, ter uma família, um emprego, amigos, instrução, são milagres que todos querem receber. Mas mesmo aqueles que não foram aquinhoados com esses bens preciosos, seguramente receberam de Deus os milagres que precisam para dar conta da vida que lhe foi presenteada e fazer dela uma escada para a ascensão espiritual à qual todos nós estamos predestinados.
Quando observamos nossas revoltas, neuroses, e insatisfações, não adoecer ou permanecer vivos é um verdadeiro milagre. Quando trabalhamos, nos divertimos, comemos ou bebemos de maneira desregrada e ainda assim seguimos vivendo, é um milagre. Milagre do tamanho da misericórdia divina.
Sintetizando, podemos dizer, portanto, que não recebemos milagres: cada um de nós é o próprio milagre.
No mês de maio, reverenciamos as mães, autoras permanentes de milagres, porque trazem espíritos ao mundo para que recomecem no aprendizado interrompido, dando-lhes agasalho e carinho como emissárias diletas do Milagroso Senhor da Vida!

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