quinta-feira, 3 de junho de 2010

Tolerância Religiosa

Apesar de nem todos sermos especialistas em Direito, quase todos sabemos que existe a "letra da Lei", e o "espírito da Lei". O que equivale a dizer que a Lei é cega, no sentido em que deve tratar todos por igual, sem beneficiar ou prejudicar uma das partes; mas que não é parva.

O excerto do Código Penal transcrito no post anterior, deve, por isso, ser interpretado com inteligência e bom-senso, sem o que se cairia na tacanhez na aplicação da Lei. O Humor, por exemplo, desde que tenha qualidade, pode brincar com quase tudo, sem ultrapassar a fronteira a partir da qual a graça se converteria em ofensa.

Lembro-me por exemplo de um sketch de Rowan Atkinson, muito conhecido pelo seu "Mister Bean", em que o actor interpreta um padre peculiar... É ténue a linha que divide a ofensa do génio humorístico. No caso deste actor, estamos a falar de um génio humorístico incontestável.

As mais das vezes, estou em crer, são mais graves as alfinetadas inter-religiosas do que as baboseiras anti-religiosas, que quase sempre caem no campo do primarismo intelectual.

Alguns líderes religiosos, usam recorrentemente uma linguagem incendiária, decalcada e ampliada de livros sagrados Antigos, e pejada de apelos bélicos. "Destruir, esmagar, aniquilar", os "pecadores, os heréticos, os apóstatas", levam na actualidade alguns crentes menos dotados de bom-senso, a passarem das palavras aos actos e a investirem com violência sobre locais de culto e adeptos de outras correntes religiosas.

Tais procedimentos são a negação mais completa do que deve ser o espírito de qualquer religião: o amor ao próximo, o amor a Deus. E Deus - seja lá o que for Deus - não há-de desejar que se violente as crenças alheias. Frequentemente são interpretações literais de figuras de estilo dos escritos sagrados de há milénios, que levam a tais extremos.

No entanto, como em certas Igrejas se fala mais do "Diabo" do que de Deus, há crentes que, embora tão transidos pelo medo como os outros, optam pela chamada fuga para a frente e cometem esses desvarios. Têm grande responsabilidade os líderes religiosos que desmentem com as suas prédicas o conteúdo das suas religiões. Enquanto a Lei de Deus não reinar entre os Homens, a Lei dos Homens, neste caso o Código Penal, deve ser aplicado rigorosamente, pois não nos podemos permitir o regresso aos tempos da Santa Inquisição e das suas congéneres Reformistas.

Não será, porventura, sequer, correcto, chamar a certas pessoas líderes religiosos, no sentido mais nobre da palavra. É relativamente fácil alguém vestir-se de clérigo, e ser na realidade mero negociante da boa-fé alheia. No Novo Testamento, Simão, o Mago, ouviu umas quantas das boas por parte dos Apóstolos a esse respeito.

Dada a falta de qualidade religiosa de alguns clérigos, chamar-lhes líderes religiosos será tão inadequado como chamar comediante a qualquer indivíduo que se proponha contar umas quantas anedotas em público, talvez daquelas pejadas de palavrões a despropósito e estereótipos cretinos. Pode ter público, mas não tem qualidade.

fonte: blog.espiritismo@gmail.com

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