terça-feira, 20 de julho de 2010

Ler Matéria - Revista RIE

O ensino oficial e o Espiritismo
Cairbar Schutel

Publicado na RIE em outubro de 1925

Os novos descobrimentos, assim como a descoberta de novas forças que eram até aqui ignoradas, demonstram cabalmente que os ensinos oficiais estão muito longe de haverem resolvido, como muitos pensavam, o problema da Vida e “o porquê das coisas”.
O paralelismo ou relação coexistente entre os fenômenos psíquicos e fisiológicos se mostra completamente sem valor desde que não se cogite ou se ponha à margem o agente intrínseco desses fenômenos.
E ainda assim esse processus que tem tratado unicamente do dinamismo anímico, mas de um modo abstrato, nem sempre pode provar a correlação existente entre tais fenômenos, máxime nos sentimentos morais, estéticos, na função da memória e na lógica do pensamento.
Examinando a extensa área de trabalhos fisiológicos, desde Cabanis até Ribot e Hersen, muito pouco ou quase nada se pode aprender sobre a causa da vida e a existência ou não do princípio anímico.
Uns dizem que o pensamento é uma secreção, outros que é um movimento, mas todas as teorias aventadas, nenhuma delas se firma em argumentos irredutíveis.
O problema psíquico tem ficado insolúvel, e querer resolvê-lo, sem as experiências demonstrativas do Animismo e do Espiritismo, é o mesmo que pretender pontificar sobre a eletricidade, vendo unicamente os seus aparelhos e modo de ação.
Agora mesmo na América do Norte se faz sentir a luta entre duas potências — os corifeus da ciência, de um lado, e os da religião do outro. Uma negando sem exame e sem base a lei da evolução, outra afirmando, mas sobre bases movediças, quais são todas aquelas da ciência materialista.
De um lado a religião negando a ciência sem a lógica da razão e a razão, dos fatos; de outro a ciência blasonando a religião e dando asas ao espírito de dúvida que tanto tem avassalado o mundo e tantos males tem causado à humanidade.
Tudo isso por quê? Porque tem faltado aos partidários da ciência oficial a especialização do trabalho experimental, indispensável às conclusões positivas sobre tão transcendental assunto.
A Ciência como a Religião se baseiam em fatos, elas não se podem constituir como simples histórias ou como meras filosofias.
Assim tem acontecido às ciências escolares: a química nos dá as leis das reações sobre que se apoia; a matemática as leis dos números; a física as leis do equilíbrio; pela mesma forma a psicofisiologia com o seu paralelismo não pode deixar, sob pena de incorrer em negação ou falsidade, de se submeter às leis que parecem não existir porque são ignoradas pelos que não penetraram ainda nesse campo de ação.
Já dissemos em outro artigo que as manifestações anímicas extraperipécias, bem como as manifestações do Espiritismo, estão fora de todas as explicações da Religião e da Ciência oficial, que as negam ou deturpam por não terem os mestres dessas escolas se dado ao trabalho de investigarem e experimentarem.
Esta “Revista” tem por escopo fomentar este estudo em toda a parte.
Não somos dos que pensam que a missão do Brasil seja unicamente o pregão da Moral sob os ditames do Evangelho.
Abraçar a Religião deixando de lado a Ciência é o mesmo que um pássaro querer voar com uma única asa.
A religião, tal como se tem concebido, é a moral, e a moral não é alheia às demais escolas religiosas fundadas sob o dogma.
Todas elas preconizam o bem, o amor, a caridade.
Resta que cimentemos esse esplendoroso edifício da Moral, que parece querer ruir por terra aos embates do materialismo, com os fatos que se vêm produzindo em toda a parte e que essas bases sejam sabiamente cimentadas, para que a Fé não tenha uma significação banal e abstrata como tem acontecido e, chegado o momento de lutas decisivas, se saiba afrontar a sorte adversa, subjugando os elementos contrários e atravessando galhardamente os empecilhos que surgem nas vicissitudes da Vida.
Precisamos nos convencer de que não são os que de longe consideram os fatos narrados apenas em descrições alheias que podem falar sobre a sua evidência, mas sim os que procuram, sondam, perscrutam e obtêm os fenômenos e buscam acuradamente suas causas.
É aos olhos destes investigadores que o problema aparece resolvido.
A Ciência e a Religião são os dois grandes fatores da ordem social, e essas poderosas alavancas do progresso humano se obtém pelo estudo experimental ou positivo que os fatos nos fornecem.
O Espiritismo nasceu dos fatos, cresceu bafejado com o calor dos fatos espontâneos ou provocados que se têm apresentado no mundo inteiro, e vive sob a luz benéfica, poderosa e inextinguível desses mesmos fatos, que servem de base inamovível a essa teoria grandiosa em sua tríplice manifestação: Ciência — Filosofia — Religião.
A Ciência e a Religião são chamadas a darem mais um passo na senda do progresso. As ciências e as religiões, pelos seus sacerdotes, são chamadas a estudarem o Espiritismo no seu conjunto harmoniosos e belo que os fatos vêm demonstrando.

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