quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Pluralidade


por MARCUS VINICIUS DE AZEVEDO BRAGA
Brasília, DF (Brasil)
 



As manchetes de todo o globo estampam a fotografia tirada por uma sonda lançada à Titã, lua de Saturno repleta de gás metano, mostrando a um mundo estarrecido a imagem de animais estranhos, similares a águas-vivas, flutuando e se alimentando diante das lentes curiosas do engenho terráqueo.
Não havendo o que contestar, as imagens caem como uma bomba nos países, mesclando comemorações com protestos, alguns violentos, insuflados por comentários de especialistas de toda natureza. Religiões aparecem tentando dar explicações estapafúrdias; cogitam-se suspeitas de fraudes conspiratórias; as bolsas quebram; suicídios e histerias coletivas ocorrem em várias partes do planeta.
Seres pacatos flutuando nas nuvens de metano causam o caos em mundo egocêntrico, localizado a milhões de quilômetros, diante de uma verdade sabida e negada, que pela sua força causa a quebra de paradigmas e desequilibra os jogos de poder e dominação habituais, onde a ciência mais uma vez muda as relações entre os povos sem pedir licença, dessa vez sem a mordaça da fogueira.
A narrativa desses três parágrafos, apesar do seu fundamento científico sobre a lua de Saturno e sua composição, é uma obra de pura ficção, fruto da imaginação do autor desse texto. Em uma predição de como reagiria nosso mundo à questão patente da pluralidade dos mundos habitados, nesse universo de tamanho insondável, só resta ao autor um cenário pessimista, de caos e confusão.
Enquanto escrevo essas linhas proféticas, a sonda estadunidense “Curiosity” pousa no solo marciano com sucesso, com um diferencial de que esse artefato busca estudar o mesmo metano, presente também em Marte, na busca de desvendar as hipóteses de vida no planeta vermelho, hipótese que anima pesquisadores e investimentos estatais.
Mas, onde encontrará a vida? A vida se faz presente em nosso planeta em várias condições, formas e tamanhos. Mesmo no calor intenso e no frio extremo, na falta do oxigênio ou de luz, diversos estudos demonstram organismos vivos que se adaptaram e sobreviveram nas condições mais adversas. Ainda que negados, os estudos de Darwin explicam o sem-número de fósseis de seres que aqui já viveram, reforçando a pluralidade de formas de vida que abriga a crosta de nosso orbe, hoje e no passado.
Da mesma forma, a cada dia descobrimos uma nova fronteira de nosso universo, nos relembrando que estamos distantes de sermos os maiores, os mais brilhantes ou mais centrais na miríade de galáxias que pululam na lente de cada novo telescópio desenvolvido. Passamos agora a descobrir planetas, encontrando em cada estrela um conjunto de globos que mostram que o nosso sistema solar não é uma aberração e sim mais um sistema entre tantos outros.
Tudo isso demonstra que estamos cada vez mais perto da confirmação do que já sabemos: que não estamos sozinhos no universo! Não adentrarei a casuística dos estudos ufológicos e dos seus sem-número de casos inexplicados, no presente e no passado. Deter-me-ei apenas na constatação de que a vida é um fenômeno surpreendente e que não pode ficar restrita a esse pequenino planetinha azul, por uma simples questão de lógica, diante do tamanho do universo e da existência de Deus.
Apesar da grande quantidade de filmes que tratam desse assunto no campo da ficção, percebo ainda que o mundo está distante de um amadurecimento que permita receber a notícia do “dia em que faremos contato” com mansidão. Não é uma questão de medo de uma invasão, enxergando mais uma vez o homem no alienígena. Trata-se de uma verdade incômoda para as concepções religiosas predominantes, muitas delas ligadas ao poder político, pois estas se fundamentam em deuses encarnados em nosso planeta e povos eleitos do universo, na visão estreita que nos rememora a Idade Média.
O Espiritismo, vanguardista em muitas de suas concepções, incorporou em seu cabedal de ideias básicas a pluralidade dos mundos habitados, consoante com a sua construção doutrinária de um Deus amoroso, e a concepção de progresso e da reencarnação. Conforme dito em O Evangelho segundo o Espiritismo: “A casa do Pai é o Universo. As diferentes moradas são os mundos que circulam no espaço infinito e oferecem, aos Espíritos que neles encarnam, moradas correspondentes ao adiantamento dos mesmos Espíritos”, rompendo de vez a nossa visão etnocêntrica de se achar o centro do Universo, ainda que isso não diminua o amor de Deus por nós.
Refletir sobre o universo em uma noite estrelada... Ver no firmamento a nossa grandeza e a nossa pequenez. Sentir-nos como um viajante nessa jornada entre vidas e planetas, na busca de conquistar a angelitude. Em cada mundo, uma comunidade, crescendo rumo à perfeição. Não sabemos se nessa encarnação veremos o dia da consagração da pluralidade dos mundos habitados, pelo contato com outros seres, mas esperamos que as descobertas que já vieram e ainda estão por vir contribuam não só para a nossa curiosidade, mas para o entendimento da nossa natureza como Espíritos imortais, no universo a caminho da luz.

Nenhum comentário: