domingo, 18 de abril de 2010

A adolescência sob um novo olhar

Susto. Essa é a primeira reação dos pais ao se depararem com mudanças radicais no comportamento de seus filhos que ingressam na adolescência. Muitos reagem, não querendo aceitar o fato de que a sua criança cresceu. Olham perplexos, para as transformações, tentando entender onde foi que falharam.
Por que ela agora encaixotou todas as bonecas e brinquedos de casinha, antes tão amados, trocando-os por revistas de celebridades, com mocinhas vestidas de preto, com botas longas e olhares desafiadores? Por que ele desmontou a cama, colocou o colchão no chão e cobriu as paredes com pôsteres de banda de rock? Por que eles se trancam o dia inteiro no quarto? Por que têm prazer em vestir aquela roupa esfarrapada, em pintar o cabelo de vermelho ou em cobrir a orelha com brincos e piercings? Por que contra-argumentam toda e qualquer ordem? Os porquês se multiplicam a fervilhar na cabeça dos pais que, há essa hora, já estão desesperados, sem saber o que fazer, que medidas tomar. Para eles é como se fossem dormir achando que está tudo sob controle com a prole e acordar com um ET dentro de casa. Tudo parece muito estranho.
Com um pouco de paciência e boa-vontade, muita informação e, por vezes, uma ajuda de um profissional, é possível enfrentar a crise até que passe. Certamente ela passará. Basta que nos lembremos de nós próprios, nessa fase.
Até bem pouco tempo, pensava-se que tais mudanças eram devidas à entrada em cena dos hormônios da sexualidade, visíveis nas alterações corporais. Hoje, com o avanço das neurociências, sabe-se que tais hormônios têm um papel limitado nas mudanças comportamentais. Na verdade, é o cérebro o principal responsável pela reviravolta comportamental dos meninos e meninas saídos da puberdade.
Tentando traduzir em uma linguagem simples o que ocorre no cérebro, diríamos que ele começa a passar por duas grandes transformações: uma na sua própria estrutura. E outra no chamado sistema de recompensa.

As transformações no cérebro

Comecemos pela rede de neurônios. Na chegada da puberdade milhares de conexões são descartadas por desuso, possibilitando a formação de novas conexões. Dizem os neurocientistas: perde-se em quantidade, mas se ganha em qualidade. As conexões neuronais, responsáveis por transmitir informações dentro do cérebro, passam a ser mais ricas e complexas, ao mesmo tempo em que se tornam mais velozes. Quer um exemplo? Experimente contrariar um desejo de um adolescente e verá com que presteza ele arrola uma série de argumentos a seu próprio favor. Tamanha capacidade de argumentação lógica causa espanto a quem estava acostumada a ver a criança sucumbir aos raciocínios paternos.
Outra mudança de vulto se passa no sistema de recompensa do cérebro. Para facilitar a compreensão sobre o que vem a ser esse sistema, tomemos o seguinte exemplo: dois meninos com cerca de oito, nove anos estão jogando bola em um parque. Eles se revezam nos papeis de goleador e goleiro. Por eles, passariam o dia todo naquela brincadeira. Chutar e fazer gol são puro prazer. Por quê? Porque nessa hora entra em cena o sistema de recompensa, uma área do cérebro que contém células que liberam dopamina, uma substância responsável pela sensação de prazer e outras que contém os receptores para essa substância. São os chamados "receptores de prazer". A sensação é tão boa, que os meninos querem fazer de novo, e de novo, num a repetição sem fim.
Acontece, porém, que à medida que a idade avança, diminui o número dos receptores de prazer (perde-se de um terço à metade desses receptores entre o final da infância e a idade adulta). Como consequência, aquilo que dava prazer passa a não dar mais. Agora é preciso encontrar estímulos novos e emoções fortes para que a dopamina seja liberada. Vem, então, o momento de "encaixotar" as coisas de criança e partir para as experimentações em busca da sensação de prazer. Muito cedo o adolescente percebe que o que dá prazer é o excitante, o desafiador, é aquilo que o leva a correr riscos. Parte, então para aventuras em busca desse prazer. Aos olhos adultos falta-lhe juízo.

Enquanto o juízo não vem

No entanto, o convívio com adolescentes nos mostra que nem todos sentem tais necessidades. Alguns até conseguem passar por esse período sem grandes crises. Para os neurocientistas isso pode ser explicado pela genética. Sob a ótica da Doutrina Espírita entendemos que tais variações ocorrem por conta da evolução espiritual de cada um. Espíritos com cérebros mais comprometidos provavelmente terão dificuldades no momento das perdas dos receptores de prazer.
Em qualquer situação está reservada aos pais e educadores a tarefa de emprestar o cérebro para o jovem enquanto o juízo não vem.

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