domingo, 18 de abril de 2010

Ler Matéria - Jornal O CLARIM

Cristianização da humanidade
Cairbar Schutel

Publicado em 23 de janeiro de 1937

Inegavelmente, a cristianização das gentes depende de revivescência da Religião de Jesus, em seu sentido primitivo, livre de todas as injunções clericais e de todos os dogmas que inutilizam a razão, fazendo com que o espírito paralise a sua ascensão para a Sabedoria e o Amor.
O Cristianismo é um punctum fluens de virtudes ativas; é uma luz crescente que nos torna aptos para elevados surtos. A sentença Apostólica não é a repressão da inteligência, a condenação da razão, a limitação do critério, a submissão aos decretos humanos, mas, sim, a elevação da nossa dignidade de pensar e de agir, de acordo com a Verdade.
São Paulo, aliando os nossos pendores de caridade com os nossos deveres de consciência, disse: “Que a vossa caridade cresça em todos os conhecimentos, para que aproveis o melhor e não tenhais tropeços no dia de Cristão”.
O Apóstolo Pedro não é menos explícito, quando recomenda em sua Epístola Universal: “Crescei no conhecimento e na graça de Nosso Senhor Jesus Cristo”.
A espiritualização da humanidade depende do conhecimento dos Preceitos Cristãos, e os Preceitos Cristãos não dependem, absolutamente, dos dogmas das Igrejas nem da influência clerical. A salvação da humanidade, ao contrário do que afirmam os sacerdotes, está FORA DA IGREJA.
Esta proposição é irrefutável, quando se observa a decadência concomitante da humanidade, a despeito dos poderes espiritual e moral que a Igreja tem enfeixado em suas mãos. Não é possível que, dispondo de tudo o que seria preciso para cristianizar o povo, da Cruz e da Espada, da aliança com os governos, com os poderosos, com os ricos, com os doutores, a Igreja estivesse com a Verdade, pois, durante 1.700 anos, ainda não realizou o seu desideratum!
Será possível que, justamente agora, quando a Igreja anuncia o fim do mundo, lhe seja necessário desenvolver grande propaganda da “fé”, época justamente em que todos já deveriam estar edificados, porque “estamos nos últimos tempos?”
Que empresa foi essa, que a Igreja tomou a peito e que, depois de centenas de anos, não conseguiu nem mesmo lançar os alicerces?
De tudo isso, nós podemos concluir que a Igreja não acolheu como devia a Palavra do Mestre e, por isso, falhou com o compromisso que tomou de espiritualizar a humanidade, pois o fato é que a humanidade está mais materializada ainda do que quando Roma diz haver recebido a incumbência de cristianizar os povos.
Por todas essas razões é que o Espiritismo se fez ver ao mundo como executor das ordens de Jesus e, no breve lapso de tempo que medeia a sua apresentação, fez muito mais do que Roma, em 17 séculos. Incomparavelmente mais, e sem dependência de todas as Potestades que, de braços dados com a Igreja, fizeram obra de destruição, a ponto de vermos os homens divididos contra si mesmos, trucidando-se, reciprocamente, em intérminas lutas fratricidas.

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