domingo, 2 de maio de 2010

Ler Matéria - Revista RIE

O problema da Imortalidade Cairbar Schutel

Publicado na RIE em julho de 1932

De todos os problemas que ensombram a humanidade, sem dúvida o da Imortalidade, em sua imediata resolução, é o que oferece maiores promessas, mais valorosos benefícios.
A Imortalidade é o pivô sobre o qual se movimentam todos os grandes cometimentos para uma orientação segura da Vida.
As alternativas de vida e morte, de evolução, de progresso, de disparidade de condições, de diferenças, a ponto de chegarem aos extremos opostos, de inteligência, de saber, de virtudes, não são compreendidas sem a solução clara, nítida, racional, positiva do grande problema, que afeta todas as ramificações do saber humano, como base que é de toda a luz, de toda a verdade, de todos os fatos psíquicos verificados desde os mais remotos tempos e que se reproduzem atualmente em todas as camadas sociais, prendendo a atenção dos pensadores e submetendo-se ao mais exigente controle dos sábios e estudiosos que anseiam e trabalham para a manifestação da Verdade em sua nudez edificante.
O problema da Imortalidade é, pois, a síntese de todos os problemas que inflamam o cérebro e fazem palpitar o coração; é o ponto de partida para todos os estudos; é a base fundamental de toda a Religião; é a rocha inabalável em que devem se assentar todas as ciências; é o foco resplandecente da Filosofia; é a alma das Artes; é a Luz, quando resolvido, ou antes quando abraçado por todos em sua significação espírita, que inundará o mundo, fazendo desaparecer todas as dificuldades aparentes que retardam a nossa marcha para a Paz e para a Fraternidade, para a Sabedoria e para a Justiça.
Pascal dizia que a Imortalidade — “é o nosso primeiro interesse, o nosso primeiro dever, é uma coisa de tal importância que é preciso se ter perdido toda a sensibilidade para ser-se indiferente ao seu conhecimento”.
Com efeito, não é da resolução desse problema que se aclara a nossa sorte, se ilumina o nosso destino, se resolve o nosso futuro pessoal, finalmente, a nossa existência?
Quem não viu morrer um ente querido, quem não se viu ainda em frente do desespero, quem não se deteve à porta fechada de um túmulo! Quem não disse, ainda, para si mesmo: “A morte será o fim de tudo? Tragará ela, em suas voragens, a abnegação, a dedicação, a sabedoria, a virtude? Nos seus antros de dissolução serão reduzidos a nada os nossos entes amados, a nossa afeição, a nossa simpatia, aqueles que constituíram nossos verdadeiros afetos, os objetos máximos da nossa veneração, do nosso amor? Será que não somos mais que um volume de carne cobrindo um esqueleto, formando o todo uma combinação de oxigênio, hidrogênio, azoto e carbono?
Será que não passamos de uma armação de ossos coberta de albumina, fibrina, com uma rede de nervos nadando em um lago de água?
Pensar, eis tudo, dizia o Dr. Paul Gibier, de saudosa memória, no seu livro “Analyse des Choses”.
Pensar para se libertar de ideias malsãs, juízos preconcebidos, preceitos dogmáticos que alteraram e sufocaram as centelhas instintivas da verdadeira crença que o Criador nos legou, pensar para poder abordar o grande problema, livre das injunções sectárias, pensar para remover as deficiências físicas que nos afastam da Verdade, tal é o que recomendamos a todos os que desejam obter os conhecimentos precisos para adquirirem a verdadeira Fé, fundamentada na psicologia nova que o Espiritismo nos apresenta para a solução dos grandes problemas da vida e da morte.
A Imortalidade é uma consequência lógica do Espírito, e sem Espírito não se pode conceber a Vida. O Espírito existe e é o fator de tudo quanto existe. No homem como no Universo, no microcosmo como no macrocosmo, o Espírito é a Causa da Vida. Virgílio dizia:
Spiritus intus alit totam que infusa per artus,
Mens agitat molem, et magno se corpore miscet.
“Tudo quanto existe no universo é penetrado pelo mesmo princípio, alma animando a matéria, que se mescla com este grande corpo”.
Abeiremo-nos da Imortalidade, busquemos com sua luz refulgente a dracma perdida da parábola e, certamente, festejaremos o encontro de tão preciosa moeda que, como premissa, nos foi legada pelo supremo Senhor, e sonegada pela escamoteação de uma ciência sem provas, materializada e metalizada que tem infelicitado o nosso planeta.

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