sábado, 28 de agosto de 2010

Desertores

Sérgio Biagi Gregório

1) O que é um desertor?

Desertor é aquele que abandona um partido, uma causa. Todas as grandes ideias têm apóstolos fervorosos; têm, também, os seus desertores. Allan Kardec diz que o Espiritismo não fugiu à regra.

2) Como podemos interpretar as deserções no início do Espiritismo?

No início, houve equívoco quanto à natureza e aos fins do Espiritismo. As brincadeiras de salão, a curiosidade e o querer entrar em comunicação com os Espíritos foram as primeiras formas que os Espíritos superiores acharam para poder chamar a atenção sobre o fenômeno mediúnico. Quando os Espíritos sérios e moralizadores tomaram o lugar dos Espíritos brincalhões, os adeptos das brincadeiras desertaram.

3) Como explicar a deserção na fase da adivinhação?

Muitas pessoas, movidas pelo espírito comercial de ganhar dinheiro na especulação do maravilhoso, acabaram desertando porque os Espíritos não vinham ajudá-las a enriquecer, nem lhes revelar o número sorteado nas loterias. Não dando certo o que vaticinavam, acabavam denegriam o Espiritismo. Esta fase também foi útil, porque separou os Espíritas sérios dos aproveitadores.

4) Por que desconfiar dos entusiasmados febris?

Por princípio, devemos desconfiar dos entusiasmados febris, porque, na grande maioria, são fogos de palha que ditam louvores sobre alguma coisa que ainda não conhecem. Passada a fase de deslumbramento, caem na real e verificam que estão longe da circunspeção, da seriedade e da abnegação que se exige de todo o praticante sincero.

5) Há deserção entre os Espíritas convictos?

Não. Allan Kardec fala de fraquezas humanas, como o orgulho e o egoísmo. Acha que há desfalecimentos, em que a coragem e a perseverança fraquejaram diante de uma decepção. Ele diz: "Entre os adeptos convictos, não há deserções, na lídima acepção do termo, visto como aquele que desertasse, por motivo de interesse ou qualquer outro, nunca teria sido sinceramente espírita".

6) Quais são as conseqüências para aqueles que desertam de sua tarefa mediúnica?

O Espírito Emmanuel, no capítulo 9, "Mensagem aos Médiuns", do livro Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier, diz que os médiuns não são os missionários na acepção comum do termo; "são almas que fracassaram desastradamente, que contrariaram sobremaneira, o curso das leis divinas, e que resgatam, sob peso de severos compromissos e ilimitadas responsabilidades, o passado obscuro e delituoso". Pela misericórdia divina, receberam a bênção da mediunidade para poderem redimir os seus erros do passado. Aceitando as incumbências da tarefa mediúnica, estarão sob a proteção dos benfeitores espirituais; desertando de suas responsabilidades mediúnicas, poderão perder o amparo desses Espíritos benfeitores, adiando para encarnações futuras o encaminhamento das almas que desviaram das sendas luminosas da fé.

7) Dê-nos um exemplo de deserção

O Espírito Irmão X, no capítulo 15, "O Compromisso", do livro Estante da Vida, psicografado por Francisco Cândido Xavier, conta-nos o seguinte: no mundo espiritual, havia uma pessoa, que se sentia muito endividada perante as leis divinas e pede aos benfeitores do espaço toda a sorte de provação, ou seja, lepra, abandono dos entes queridos, extrema penúria e cegueira. Diante deste pedido, os benfeitores falaram: "Você encarnará são, mas com uma condição, será médium". Vem ao mundo como Alberto Nogueira.

Passados 36 anos, os benfeitores esperavam que ele estivesse colaborando num determinado Centro Espírita. Precisando dos seus préstimos, envia a mãe e a filha, esta obsedada, para que ele pudesse ajudá-la. Não o encontraram no Centro. Sob a influência desses mesmos benfeitores, conseguem o endereço do médium. Mãe e filha vão à sua casa e o encontram lendo um jornal do dia, em larga espreguiçadeira. Apesar dos rogos insistentes da mãe, não quis ajudar a pobre menina.

Conclusão: "Aquele espírito valoroso que pedira lepra, cegueira, loucura, idiotia, fogo, lagrimas, penúria e abandono, a fim de desagravar a própria consciência, no plano físico, depois de acomodar-se nas concessões do Senhor, esquecera todas as necessidades que lhe caracterizavam a obra de reajuste e preferia a ociosidade, enquadrado em pijama, com medo de trabalhar".

Bibliografia Consultada

KARDEC, A. Obras Póstumas. 15. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1975.

XAVIER, F. C. Emmanuel (Dissertações Mediúnicas), pelo Espírito Emmanuel. 9. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1981.

XAVIER, F. C. Estante da Vida, pelo Espírito Irmão X. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1974.

Recomendação de Leitura:

Os Mensageiros, pelo Espírito André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier.

Neste livro, há os testemunhos de médiuns (desencarnados) que, tendo partido do "Nosso Lar", com tarefas específicas, não conseguiram cumpri-las. No retorno, seus relatos são pungentes e esclarecedores.

Capítulo 34 (Desertores), do livro Seara dos Médiuns, psicografado por Francisco Cândido Xavier.

Desertores não são apenas aqueles que deixam de transmitir com fidelidade a mensagem dos Espíritos. Os que armazenam pão, sem proveito justo, os que afogam no álcool, os que... Também o são.

Capítulo Os Desertores, do livro Obras Póstumas, de Allan Kardec.

Mensagem de Allan Kardec, sobre este tema, tão logo voltou ao mundo dos Espíritos, enaltecendo o esforço de continuar na divulgação e prática do Espiritismo. Caso se esquivem da tarefa, "perdem a proteção dos bons Espíritos e, conforme a triste experiência que temos feito, bem depressa chegam, de queda em queda, às mais críticas situações!"

São Paulo, junho de 2009

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